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Folha de S.Paulo
Sexta-feira, 13 de maio de 2022
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Estaria a supremacia de Xi Jinping dentro do Partido Comunista ameaçada pela recente crise causada pela Covid? O questionamento é feito em reportagem do Wall Street Journal, que relata resistências interna no PC Chinês ao líder. Também nesta edição: a censura ao diretor da OMS nas redes sociais do país e a libertação de um ativista pelos direitos humanos de Taiwan.

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Igor Patrick
Igor Patrick
Jornalista e mestre em estudos da China (política e relações internacionais) pela Academia Yenching da Universidade de Pequim
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Trabalhadores da saúde usando roupas de proteção contra a Covid-19 passam ao lado de uma tela gigante que transmite o líder chinês, Xi Jinping
Xi Jinping sofre efeitos da política 'Covid zero'
O jornal americano The Wall Street Journal publicou uma longa reportagem nesta semana relatando que o premiê do país, Li Keqiang, trabalha nos bastidores para influenciar a escolha de seu sucessor. A ideia é ter um primeiro-ministro que faça frente a Xi Jinping.
 
Em 2018, Xi conseguiu remover o limite de mandatos da Constituição (até então, um secretário-geral só podia permanecer no cargo por no máximo dois mandatos de cinco anos). Embora a decisão tenha sido aprovada por unanimidade pela Assembleia Nacional do Povo, como é praxe, o movimento não agradou algumas alas do partido.
  • Desde então, Xi trabalha para consolidar seu poder internamente e prepara terreno para um terceiro mandato a partir do final deste ano;
     
  • Para garantir um processo tranquilo, reforçou a política de “Covid zero” e ativou a máquina de propaganda para alardear o sucesso do governo em proteger as pessoas.
Funcionou até a chegada da ômicron, variante muito mais contagiosa que as anteriores. Agora, segundo o jornal americano, citando fontes no alto escalão do poder na China, oficiais ligados à Liga da Juventude Comunista, órgão que tem elos com o antecessor de Xi, Hu Jintao, estariam se movimentando para limitar a influência do atual líder.

O Wall Street Journal cita a visita do premiê Li Keqiang a big techs no mês passado como um sinal dessa disputa interna. Essas empresas foram duramente atingidas por regulamentações que limitaram o crescimento e o escopo das atividades de empreendimentos como o gigante do comércio eletrônico Alibaba e a companhia de caronas compartilhadas Didi –dona da 99 no Brasil. 

“Fontes no centro do poder disseram que as visitas de Li e sua equipe serviram para sinalizar que a repressão de Xi prejudicou o emprego e o crescimento. Li é a força motriz por trás da mudança”, reportou o jornal, citando oficiais do partido.

Em novembro, o Congresso Nacional do Povo decide se mantém ou escolhe uma nova liderança do país, além de selecionar os nomes para o Politburo, para o Comitê Militar Central e para o Comitê Permanente da Assembleia Nacional, três dos principais órgãos decisórios na estrutura burocrática chinesa.

Por que importa: se em 2021 alguém dissesse que a hegemonia de Xi estaria ameaçada a meses da escolha da liderança do país, qualquer sinólogo ou analista da China consideraria a afirmação maluca. 

Esse não parece mais ser o caso. Se o caos do lockdown em Xangai se espalhar pelo país, as possibilidades de Xi não consolidar as condições para um terceiro mandato ou mesmo de ser forçado a trabalhar com um Politburo hostil são grandes. As consequências políticas certamente seriam sentidas ao menos pelos próximos cinco anos.
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Um portão bloqueia a entrada de uma área residencial durante o lockdown em Xangai
o que também importa
Após cumprir uma sentença de cinco anos pelo “crime de subversão”, um ativista taiwanês foi libertado nesta semana de uma prisão chinesa.

Lee Ming-che visitava a China em 2017 quando desapareceu. Conhecido pelo histórico de defesa dos direitos humanos, Lee foi levado para uma prisão na província de Hunan. 

Ele relatou ter sido forçado a trabalhar longos turnos na fabricação de itens como bolsas e sapatos. Além disso, em mais de uma ocasião ele teria recebido comida estragada e teve o pedido de visita ao funeral do pai negado.

Nas primeiras declarações após a libertação, o ativista disse ter sido coagido a confessar os crimes dos quais era acusado. Segundo o site Supchina, as razões exatas pelas quais ele foi preso nunca ficaram claras —especula-se que suas conversas sobre democratização de Taiwan com amigos chineses provavelmente tenham sido monitoradas por Pequim.

Em uma breve nota à imprensa, Lee exortou ativistas taiwaneses a serem mais cuidadosos nas interações com contatos chineses. A localização atual dele não foi revelada.
Após pedir que o governo chinês reavalie a sua política de “Covid zero”, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom, foi censurado nas redes sociais da China. 

Adhanom disse à imprensa que, "considerando o comportamento do vírus e o que prevemos no futuro”, a "abordagem da China não será sustentável". A fala repercutiu na China e se espalhou pela internet. 

Desde o início da semana, quem tenta acessar o vídeo recebe uma mensagem dizendo que o link "violou leis e regulamentos nacionais". A busca pela hashtag #Tedros no Weibo, espécie de Twitter chinês, encaminha para uma página sem resultados.

Além da censura digital, a China também reagiu oficialmente às falas do diretor da OMS. O jornal Global Times, ligado ao PC, chamou a declaração de "irresponsável", enquanto o Ministério das Relações Exteriores pediu que Tedros evitasse "comentários levianos".
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O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom - Johanna Geron/Reuters
fique de olho
Pesquisadores da Universidade Fudan de Xangai, estimaram que “viver com o vírus” da Covid-19 pode resultar em 112 milhões de infecções sintomáticas, 2,7 milhões de internações em terapia intensiva e quase 1,6 milhão de mortes entre maio e julho. 

O estudo reforça a necessidade de controlar a transmissão e ajuda a respaldar a decisão do Comitê Permanente do Politburo, que na semana passada indicou a continuidade da estratégia de “Covid zero” no médio prazo.

Por que importa: A China tem um dos piores índices de leitos de UTI no mundo: apenas 3,6 a cada 100 mil habitantes –a maioria dos quais concentrada nas grandes cidades. Conviver com o vírus inclui aceitar um número considerável de mortes e caos no sistema hospitalar, algo que, ao menos por hora, a liderança chinesa não parece disposta a pagar para ver.
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Hong Kong prende cardeal da Igreja Católica crítico do regime chinês
Joseph Zen, liberado após pagamento de fiança, foi detido com outras três pessoas acusado de conluio com forças estrangeiras
para ir a fundo
🇨🇳 Para seu evento internacional mensal, a Observa China recebe neste sábado (14) a pesquisadora Francesca Staiano, diretora do Centro de Estudos da China da Universidade Nacional de La Plata. Ela falará sobre relações sino-latino-americanas. (gratuito, em inglês)

🤔 O presidente da Asia Society e ex-premiê da Austrália, Kevin Rudd, falou nesta semana em um webinar sobre os desafios da Covid para a liderança de Xi Jinping e para a estabilidade econômica chinesa. (gratuito, em inglês)

🗣️ Conhecida pelo blog e livro "China em Minha Vida", Christine Marote participa nesta sexta (13), às 14h, do Radar Entrevista, programa comandado pela jornalista Janaína Silveira. Ela discorrerá sobre experiências em Shanghai e sua ligação com o país. (gratuito, em português)
Ian Bremmer
Futuro da China depende de como Ocidente vai reagir a seu próximo capítulo
Desenvolvimento tecnológico do país asiático limitará danos causados por vulnerabilidades econômicas
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