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Folha de S.Paulo
Quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023
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O ensino de história e cultura africana passou a ser obrigatório nas escolas do país há 20 anos. O efeito prático da medida é o assunto da edição de hoje. E trago dicas de uma professora sobre onde encontrar fontes sobre África e memória negra para usar na sala de aula.    
 
Boa leitura!
Gabriela Bonin
Gabriela Bonin
Jornalista pela USP (Universidade de São Paulo), trabalha na editoria de Newsletter. Antes, esteve no jornal Agora São Paulo. Participou do Programa de Treinamento em Jornalismo de Saúde da Folha em 2020.
Esta newsletter é produzida em parceria com o Itaú Social
Itau Social
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20 anos depois
Desde 2003, é obrigatório o estudo sobre história e cultura afro-brasileira nas escolas. Especialistas apontam limitações na implementação da legislação que completa 20 anos.

Cronologia: a lei foi sancionada em 2003, direcionada à educação básica. Foi complementada em 2008 para estender a prática ao ensino médio e incluir povos e culturas indígenas no rol de conteúdos obrigatórios.

O que diz a lei: É obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares.
  • O que deve ser ensinado: história da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política da história do Brasil.
     
  • Em quais disciplinas? Em todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística, Literatura e História.
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Estudantes da escola municipal Ruben Bento Alves, de Caxias do Sul (RS), onde são realizadas atividades com temas de relações étnico-raciais
O repórter da Folha Lucas Lacerda conversou com especialistas sobre a lei, que apontaram entraves em sua aplicação:
  • Fiscalização: órgãos que gerem a política de educação e os que deveriam garantir sua aplicação têm sido omissos.
     
  • Formação de professores: o ensino geralmente fica a cargo de professores ligados a estudos étnico-raciais ou associados a organizações do movimento negro.
     
  • Material didático: faltam materiais que aprofundem a temática.
São críticas endossadas pela professora de História e escritora Lavínia Rocha, 25, formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e que dá aulas em Belo Horizonte.
 
Ela conta que, na UFMG, a disciplina de história da África dura apenas um semestre. Outras, como história da Europa, das Américas ou do Brasil, têm mais módulos e são estudadas durante dois ou quatro semestres. 
  • "São dois professores, um para ensinar África pré-colonial e outro, pós-colonial. Você precisa escolher entre um e o outro. Eu estudei África pós-colonial e fiquei sem o conteúdo pré-colonial. Não tem como, em um semestre, dar toda a história da África."
     
  • Folha entrou em contato com a UFMG, que não se posicionou sobre a crítica à grade curricular até o envio desta newsletter. Segundo a universidade, não foi possível entrar em contato com a coordenação do curso de História devido ao período de férias letivas. 
Segundo Lavínia, a lei dá respaldo para dialogar com seus alunos sobre raça e o legado da escravidão no Brasil, mas é preciso ir além do conteúdo trazido pelos livros didáticos. 
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"Como professora de História, eu entendo que nós precisamos falar de raça o tempo todo", diz Lavínia Rocha
Uma pitada de criatividade
Ao ensinar cultura e história do continente africano aos alunos do 5º ano do ensino fundamental, Lavínia quis trazer o conteúdo de um jeito diferente e registrou a experiência em um vídeo que viralizou na internet (veja aqui).

"Em quais coisas vocês pensam quando eu falo África?", questionou os alunos antes de começar a trabalhar o conteúdo em sala de aula. 
  • "Pessoas escravizadas", "pessoas magras", "pobreza" e "pessoas doentes", disseram os estudantes.
Após ensiná-los sobre África, repetiu a pergunta e as respostas foram diferentes —e mais numerosas: 
  • "Sabiam muito sobre agricultura", "resistência e cultura", "iorubás", "oralidade" e "berço da humanidade" são alguns exemplos.
     
  • Um dos alunos, inclusive, comenta: "professora, você lembra do quadro que a gente fez? Tinha só um 'tantin' (sic) de coisa. Olha o tanto que tem agora"
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ANTES: Lousa feita pela professora Lavínia com respostas dos estudantes antes de aprenderem sobre a África
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DEPOIS: Após as aulas sobre o continente e a civilização, os alunos puderam expandir a visão sobre a África
Para educadores que querem mergulhar no ensino de raça, cultura e história africana, Lavínia indica duas fontes de informação:
👩‍🏫 Em debate
Discussões interessantes para a sala de aula
A edição de hoje vem com um tema extra. Certamente você leu ou ouviu algo sobre o tal de ChatGPT nas últimas semanas. Recomendo o texto abaixo da newsletter FolhaMercado (não recebe ainda? Inscreva-se aqui) sobre o uso e o banimento da ferramenta na educação. 
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ChatGPT e 'trapaças' nas escolas
Pela sua capacidade de escrever textos complexos e que pareçam ter sido feitos por humanos, o ChatGPT foi banido de escolas e universidades e motivou debates sobre mudanças no método de ensino.

Para ajudar a identificar plágios e fraudes, a OpenAI, criadora do ChatGPT, lançou nesta terça (31) uma ferramenta que pretende identificar se determinado texto foi escrito por IA (inteligência artificial) ou não.

Entenda: no site da plataforma (clique aqui para acessar), a OpenAI afirma que "o classificador é uma ferramenta para estimular discussões sobre alfabetização de IA".
  • Ela afirma que os resultados – que podem ser "muito improvável", "improvável", "incerto", "possivelmente" ou "provavelmente" sobre texto feito por IA– não devem ser a única evidência para garantir que um conteúdo foi gerado por um robô ou não.
A própria ferramenta denuncia suas fragilidades:
  • Requer um mínimo de 1.000 caracteres, o que equivale a aproximadamente 150 a 250 palavras.
  • O classificador nem sempre é preciso, e pode rotular erroneamente texto gerado por IA e escrito por humanos. Há inclusive um exemplo de erro: quando o teste é feito com o segundo parágrafo do livro "Dom Quixote", ele acusa como feito por IA.
  • O texto gerado por IA pode ser editado facilmente para evitar o classificador.
  • É provável que o classificador erre no texto escrito por crianças e no texto que não está em inglês, porque foi treinado principalmente em conteúdo em inglês escrito por adultos.
Graduado: a preocupação da comunidade acadêmica aumentou depois que o ChatGPT foi testado e aprovado –mas não com nota máxima– em um MBA em Wharton e em provas para exercer a profissão de médico e advogado nos EUA.

Em entrevista à Folha, o neurocientista Álvaro Machado Dias, colunista do jornal, disse que a tecnologia pode trazer consequências negativas, mas o saldo é positivo. Profissões burocráticas e modelos de ensino baseado em "decoreba" podem estar com os dias contados.
🤝 Parceiros na Educação — Itaú Social
Nossa recomendação de leitura
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Pintando uma nova história
Oficinas culturais e artísticas fazem diferença na vida de crianças, adolescentes e idosos de Francisco Morato (SP)
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